Mar despovoado
Sebastião Norões (1915-1972)
Mar despovoado. O coração em largas sensações.
Uma gaivota rasgando o espaço inutilmente.
Na profundeza das águas o incógnito
e no céu sempre o mesmo azul e as mesmas esperanças.
Peixe isolado mostrando à flor do líquido
a razão de viver.
A vastidão comendo tudo.
E o vácuo ainda maior.
O pensamento se desabotoa célere
mas a amplidão é infinita.
Alcançar a Austrália ou alcançar o Alasca
é coisa que fica na vontade.
Nem a amizade brotou verdadeira.
Agora só o repouso que não finda.
O afogamento para sempre de todas as ilusões
e a morte completa.