Annabel Lee
Edgar Allan Poe (1809-1849)
Há muitos anos, há distantes, longos anos,
______Num certo reino à beira-mar,
Vivia alguém, – uma donzela, – Annabel Lee,
______(Vocês se devem recordar)
Alguém que só pensava em mim, e a quem eu tinha
______Amor imenso, amor sem par.
Eu era criança, e ela era criança, – Annabel Lee! –
______Naquele reino à beira-mar!
Mas nos amávamos com um amor que era, na terra, mais que Amor:
______(Não o podeis avaliar!)
Amor que os anjos, seus irmãos, de asas de neve,
______Olhavam do alto, a cobiçar.
Por isso foi que há muito tempo, há muito tempo,
______Naquele reino à beira-mar,
Soprou um vento, – um vento frio, – e Annabel Lee
______Sentiu-se, aos poucos, esfriar...
E então vieram seus parentes de alta estirpe,
______Vieram para m'a levar;
E a enclausuraram num sepulcro, – ó dor! ó dor! –
______Naquele reino à beira-mar.
Não eram, os anjos, tão felizes como nós,
______Viviam a nos invejar.
Sim! Foi por isso (toda gente bem o sabe,
______Naquele reino à beira-mar)
Que um vento frio me roubou Annabel Lee,
______Que um vento frio a fez gelar.
Mas nosso amor era mais forte, mais profundo
______Do que o dos outros, neste mundo,
______De mais idade e mais pensar.
E nem os anjos, lá das rútilas estrelas,
______Nem os demônios sob o mar,
Hão de, jamais, em dia algum, as nossas almas
______Uma da outra separar.
Pois nunca, – ó bela Annabel Lee! – sem me trazer sonhos de ti,
______Fulge, de noite, a luz do luar!
Nunca as estrelas, meu amor, despontam no alto, – que o fulgor
______Não sinta, em mim, do teu olhar!
E toda a noite, enamorado, eu vou dormir aí a teu lado,
Ó benquerida! – ó benquerida! – ó minha noiva e minha vida!
______Aí nessa campa à beira-mar,
______Onde ressoa voz do mar!
(Trad. Gondin da Fonseca)