Amigos do Fingidor

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Onde estão?

Donaldo Mello


Todos os meus, todos.
Encantados roseanamente.

Séculos, perdidos no palácio
do esquecimento
: mortos!

Eles todos, Manuel Bandeira
perguntava, onde estão?

E respondia no poema:
dormindo. Profundamente.

Foi um sonho ou, lúcido,
terei vivido com os meus?

Saltam do caleidoscópio
da memória, vívidos.

Evanescidos nomes
“que se fizieron las
llamas de los fuegos
encendidos”
[1] da amizade.

Clamam, do irreversível,
e inflamam o suplício
da feliz recordação “as
vozes daquele tempo”[2], então.

Hamlet, “sozinho
como só ele”, a
recitar – Ubi sunt?[3]
Ouvindo o sussurro, sente

no interior da consciência,
a voz “daquele
tempo”, a imitar
também nossa voz.

Todos os nossos, todos.
Cantados, ternamente.



[1] Manrique, Jorge, “Coplas” in Augusto Meyer (1902-1970) Ensaios escolhidos (no texto “Pergunta sem resposta”)
[2] Bandeira, M., Profundamente (poema)
[3] Onde estão?