Donaldo Mello
Todos os meus, todos.
Encantados roseanamente.
Séculos, perdidos no palácio
do esquecimento: mortos!
Eles todos, Manuel Bandeira
perguntava, onde estão?
E respondia no poema:
dormindo. Profundamente.
Foi um sonho ou, lúcido,
terei vivido com os meus?
Saltam do caleidoscópio
da memória, vívidos.
Evanescidos nomes
“que se fizieron las
llamas de los fuegos
encendidos”[1] da amizade.
Clamam, do irreversível,
e inflamam o suplício
da feliz recordação “as
vozes daquele tempo”[2], então.
Hamlet, “sozinho
como só ele”, a
recitar – Ubi sunt?[3]
Ouvindo o sussurro, sente
no interior da consciência,
a voz “daquele
tempo”, a imitar
também nossa voz.
Todos os nossos, todos.
Cantados, ternamente.
[1] Manrique, Jorge, “Coplas” in Augusto Meyer (1902-1970) Ensaios escolhidos (no texto “Pergunta sem resposta”)
[2] Bandeira, M., Profundamente (poema)
[3] Onde estão?