San Juan de la Cruz (1542-1591)
Um pastor solitário e contristado
distante do prazer e do contento,
em sua pastora posto o pensamento,
o peito tem do amor muito magoado.
E não chora por tê-lo o amor ferido,
nem pela dor de ver-se maltratado,
mesmo que o coração tenha magoado;
mas chora por pensar que está esquecido.
Eis que só de julgar-se esquecido
pela bela pastora, de dor cheio
deixa-se maltratar em solo alheio,
o peito pelo amor muito ferido.
Disse então o pastor: “Fui ofendido
por quem de meu amor aceita a ausência,
e já gozar não quer minha presença,
o meu peito de amor muito ferido!”
Após longo momento ei-lo erguido
na árvore onde abriu seus belos braços,
e morto lá ficou com fortes laços,
o peito pelo amor muito ferido.
(Trad. Maria Salete Bento Cicaroni)