Soneto 20
Diogo Bernardes (1530?-1605?)
Um firme coração posto em ventura,
Um desejar honesto, que se enjeite
De vossa condição, sem que respeite
A meu tão puro amor, a fé tão pura:
Um ver–vos de piedade, e de brandura
Imagem sempre, faz–me que suspeite
Que alguma brava fera vos deu leite,
Ou que nascestes de uma pedra dura.
Ando buscando causa que desculpe
Crueza tão estranha; porém quanto
Nisso trabalho mais, mais mal me trata,
Donde vem que não há quem nos não culpe;
A vós, porque matais quem vos quer tanto;
A mim, que tanto quero a quem me mata.