Francisco Gomes de Amorim (1827-1891)
Na foz do rio Negro, em 1842
Como são brancas as flores
Deste verde laranjal!
É doce a sua fragrância,
Como a deste roseiral;
Mas têm mais suave aroma
As rosas de Portugal.
O solo destas florestas
O brilhante e o oiro encerra;
São imensos estes rios,
Imensos o vale e a serra;
Porém não têm a beleza
Dos campos da minha terra.
Estes astros são mais belos?
É mais belo o seu fulgor?
Mas luzem no céu do exílio
Não lhes tenho igual amor.
Ai! astros da minha terra
Quem me dera o vosso alvor!
De amores embriagada
A rola suspira aqui;
Com estes vivos perfumes
Tudo ama, folga, e ri!
Mas oh! que tem mais encantos
A terra aonde eu nasci!
Lá era a lua mais linda,
Mais para os olhos as flores;
As noites da primavera
São ali mais para amores;
E nos bosques de salgueiros
Também há meigos cantores.
Oh! não; não é belo o sítio
Do meu desterro infeliz
Onde tudo – a toda a hora –
Que sou proscrito me diz.
Não, não há terras formosas
Senão as do meu país!