Amigos do Fingidor

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Estante do tempo

Pôr-do-sol no Amazonas
Paulo Monteiro de Lima (1925-1951)


O sol pendurado no azul do infinito
– Qual lâmpada enorme que Deus colocou –
Vai lento expirando... morrendo nas sombras
Tal como uma donzela que o noivo enganou.

O sol vai morrendo! Na crina das matas
– Lá onde o pampeiro mil vezes desceu –
A rola soluça carpindo a saudade
Do amante que a bala nos ermos colheu.

O sol vai morrendo! Seus raios vermelhos
Divagam no espaço perdidos... à toa...
Às vezes doirando no espelho das águas
A sombra formosa da garça que voa.

O sol vai morrendo! Nas matas sombrias
Um grande mistério parece cair
E a "Mãe da Seringa" de certo vagueia
Na imensa planície que aguarda o porvir.

O sol vai morrendo! Quem pode no mundo
Tal quadro soberbo com gênio pintar?
São estas as cenas que os olhos divisam
E à alma só resta sentir e calar.

O sol vai morrendo! E a noite formosa
Estende na terra seu cândido véu
E a lua divina – qual pálida virgem –
Já brinca de "manja" com as nuvens do céu.

E agora de todo seus raios se apagam
E um grande silêncio nos ermos desceu;
As aves da noite soluçam nos galhos
Talvez com saudades do sol que morreu.