Amigos do Fingidor

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Estante do tempo

Antecipo minhas rugas no espelho
Antísthenes Pinto (1929-2000)


Antecipo minhas rugas no espelho.
A sombra hirta que foi vejo curvada.
Piso fundo no chão que silencia
E vou contar estrelas na vidraça.

A ave do desejo pousa em livro.
(Não há no vácuo acústica às palavras)
Liberto já do sonho que não tive
Fujo de mim e só de mim fugindo

Sem dar um passo além do que pensara
Quando fui velho sem chegar a ser.
O meu patético olhar engole o longe:

– Escuro limitando com escuro
E quanto ao perto: cinza no cinzeiro
E o negro cão do tempo me mordendo.