Cláudio Fonseca
Iam sob o mormaço
como em todas as tardes, iam.
Pão da merenda no bolso
cadernos sujos num laço,
botas no pó, já sumidas,
passavam cercas e prados.
Iam olhando as mangueiras
como em todas as tardes, iam.
Mangas carnudas, douradas,
que os dois meninos nem viam.
Ao longo as carroças passavam
alegres. Os dois seguiam.
Iam por sobre a ponte
como em todas as tardes, iam.
Mas de repente, pararam,
olharam as águas do rio
e as três varinhas de pesca
ocultas sob o plantio.
E foram pelo atalho
do cemitério, sombrios.
Olharam a cruz de Laurinho
que ia ao lado, sozinho,
silencioso e frio.