Amigos do Fingidor

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Poesia em tradução

A uma dama, tendo-a visto menina, e depois moça feita
Luis de Góngora y Argote (1561-1627)


Se, entre as plumas do ninho seu, Cupido
o arbítrio me prendeu, que fará agora
que em teus olhos, dulcíssima senhora,
armado voa, já que não vestido?

Eu entre as violetas fui ferido
pela áspide que hoje entre os lírios mora:
igual força mostravas, sendo aurora,
à que tens como sol já bem nascido.

Saudarei tua luz com voz dolente,
qual terno rouxinol em prisão dura
despede queixas, mas bem docemente.

De raios vi, direi, tua fronte ardente
coroada; e que te faz a formosura
cantar as aves e chorar a gente.

(Trad. Péricles Eugênio da Silva Ramos)