Amigos do Fingidor

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

O gato

Adriano Espínola
A Antônio Paulo Graça

Elástico,
caminha sobre o muro.

Com o focinho,
empurra a luz da manhã.

As patas ondulam,
silenciosas.

Refulge,
negramente esculpido,
na claridade.

É denso, atento, perfeito.

*

No entanto,
entre o chão e o ar,

o veloz perfil
desenha enigmas:

o gato é anterior
ou posterior às coisas?

Avança sobre a vigília
ou o sonho?

Que estágio da matéria
espreita o gato?

*

Ali, ele pára, pensativo.

Múltiplo
e sábio,

calcula o espaço
entre seu corpo

– e o telhado em frente.

Súbito,
salta
sobre o invisível.