Amigos do Fingidor

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Estante do tempo

A Cegonha
Aníbal Teófilo (1873-1915)

Em solitária, plácida cegonha,
Imersa num cismar ignoto e vago,
Num fim de ocaso, à beira azul de um lago,
Sem tristeza, quem há que os olhos ponha?

Vendo-a, Senhora, vossa mente sonha
Talvez, que o conde de um palácio mago,
Loura fada perversa, em tredo afago,
Mudou nessa pernalta erma e tristonha.

Mas eu, que em prol da Luz, do pétreo, denso
Véu do Ser ou Não Ser, tento a escalada,
Qual morosa, tenaz, paciente lesma,

Ao vê-la assim mirar-se n’água, penso
Ver a Dúvida Humana debruçada
Sobre a angústia infinita de si mesma!