Amigos do Fingidor

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Cantos das ruas

Marco Adolfs

Vou lhes contar uma história,
Com um pouco de verso e de troça;
É obra de desatinado poeta,
Que abandonou vida bem posta;
A coragem ele tirava da vida;
Da agrura e de tudo o que via;
Era um poeta sincero,
Desses que escrevem a lida;
Tornara-se poeta das ruas,
Em meio a pobres e vagabundos...
Preparem-se então pra escutar,
O que ele vai relatar:
– Sempre caminho em frente,
Pisando o bendito do chão;
Sigo o rumo escolhido;
Às vezes sem um tostão;
Mas esta é a vida incerta,
Que Deus me deu pra viver;
É vida pra ser sentida,
Como lição do saber;
Nesses caminhos de luta,
Encontrei alegria e tristeza;
Senti as dores do mundo;
Também falsidade e vileza;
Tudo em cada canto das ruas,
Em rostos de seres sem fim;
No rastro de becos e vielas;
Em almas passando por mim;
Tentava encontrar um começo;
Assim como um meio e um fim;
Travei conversas absurdas,
Em quartos alugados a mim;
Dormi com trapos sangrentos;
Em hálito de tragos sem fim;
Sonhei a Terra dos fracos;
Vivendo uma vida assim;
Acordava pelas tantas da noite,
E olhava as estrelas no céu;
Eram tantas a brilhar nas trevas,
Que eu tinha a certeza do céu;
Assim caminhei um bom tempo;
Antes de parar e escrever;
Peguei do papel e da tinta;
Rabisquei os segredos do ser;
Na solidão desta minha escritura,
Fazia então a poesia nascer;
Pensando em minha vida nas ruas,
Revelava o canto do crer;
Assim eu fui caminhando,
Nos cantos das ruas insanas;
Traçando meu pranto em palavras;
Lavrando o solo do ser.