O pescador bêbado
Robert Lowell (1917-1977)
A chafurdar neste maldito antro
Eu lanço o anzol ao peixe que me atrai
(Em verdade, do arco de jeová não pendem
Potes de ouro a vergarem-lhe as pontas);
Sangrentas as bocas, só as irisadas trutas
Mordem-me a isca. E na bolsa de lona
Em torno, outras saltavam, até que a traça
Corroeu-lhe o tecido, desgastável.
Para saber o dia, um calendário;
Um lenço, para afastar os mosquitos;
Com a tempestade, sem estofo o catre
E eu com uma garrafa sob o braço;
A garrafa de uísque cheia de iscas;
E calças de pijama: serão termos
Próprios a avaliar do verme a líquida
Raiva no ventre a fervilhar da idade?
Pescar, outrora, era questão de sorte –
Ó vento! Sopra frio, sopra quente.
Os sóis deixa ficar ou pular fora:
A vida dançava a jiga no jorro –
Do cachalote, e fluente e obscena a pesca
Do pescador lavava a consciência.
Crianças! Baba a memória, enfurecida,
Sobre a glória dos charcos do passado.
Tépido agora o rio, vaza e empoça
Suas águas cruentas em enseadas;
Dentro de meu sapato, um grão de areia
Imita a lua anta a desfazer
O Homem, e até a criação; o pútrido
Remorso empestou já a sua fonte;
Assemos de baleia a raiva trilha.
E este da velhice o caldeirão.
Não há algum modo de lançar o arpão
Fora deste dinamitado córrego?
Do pescador os filhos, quando rasas
As águas somem, têm de esquadrinhar.
Com isca untada, apanharei o Cristo
E enquanto o Príncipe da Treva espreita
Meu sangue até o seu estígio termo...
Anda sobre a água o Homem-Pescador.
(Trad. Octavio Mora)