Amigos do Fingidor

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Estante do tempo

O Descrente
Torquato Tapajós (1853-1897)


Que mais queres? De ti aborrecido
Procuro a solidão.
Lá mesmo vais levar a meus ouvidos
O rir da multidão!

Eu desprezo-te, mundo, e tu me buscas!
Mil vezes maldição!
Já não creio em teus risos mentirosos
Roubaste-me a ilusão.

Vai-te, vai-te me deixa – sinto o gelo
Crestar-me o coração.
Foste tu quem mo deste, pois outrora
Ardia qual vulcão.

Nem futuro mais tenho, o atiraste
Em triste escuridão.
Meteoro brilhante que surgindo
Perdeu-se n’amplidão.

Vai-te mundo enganoso – sou descrente
Oh! me sorriste em vão.
Não quero teu sorriso que é mentido
É rir de perdição.

Fui cego em te seguir – compreendeu-te
Bem tarde o coração.
Mas forças inda tenho para dar-te
Desprezo e maldição.