Amigos do Fingidor

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

o fingidor – opus zero (agitato)*
Zemaria Pinto


fingere. a dor esculpida em riso ou siso: el dolor de ya no ser. essências & medulas. medo. de não sentir o que se sente quando se pensa que. eu, não, eu. autofagia. devora-me ou. eu não sabia, eu só queria te conhecer. mas, o que pode, o que pensa, o que quer? tudo – e mais alguma coisa: absoluto. eu, resoluto, explodo em estilhaços de. eu profundo, quantos eus? quando, eu? nonada, bosticatoa – quer saber? poder & desprezo: domínio/abandono. língua & linguagem, loucas papilas unem bocas & axilas. pó, água, barro: homem. vem comigo, forma inexata, tapete púrpura, jambo, deitar. derrame o sol seus cristais. nos meus umbrais canta um bem-te-vi vadio, a repetir, a repetir, ah! tua cara de lua reflete a luz do lampião. fachear. manhã nascida do verso feito carne – gozo & fogo. ravina perpassa vento, ventania. demência. mente alada, fingimento, alegria, dor, rebeldia. ainda & sempre. criar: mesmo à revelia. do sono, do saldo, da sarna. cita da citação: é sempre o homem, mesmo que seja o boi. berro. arrancam-me os olhos, mas posso ver-te. paisagem queima-me a pele. eu retorcido, cauim. beleza inútil, poesia? palavra, lavra lavada – anoiteço, desamanheço de mim. obscuro. canto & muro. tristezas não pagam patos. desmantelo o improviso assobiando tercetos. cateretê. desarme-se/desatrele-se. sorris, mas eu te quero ainda. ao sol, todos os gatos são fardos. magia. na linha do soco, se agache. rito. beijo na boca, hortelã & caju. diz que me ama, mas não fala. guarda aladas palavras como palomas nas torres da catedral. rubi na boca. troféu. batalha vencida. tempo: litania. jogo: um lance de dedos. liame de corpos jogados ao léu. revelação, forma & substância: encontro. imagem, música. logos.
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*365 dias no ar. Este poema foi publicado na capa de o fingidor, número zero, em maio de 1993. Quem viveu viu.