Quando, na angústia do suicídio
Anna Akhmátova (1889-1966)
Quando, na angústia do suicídio,
o povo esperava pelo hóspede germânico,
e o austero espírito de Bizâncio
desertava a Igreja russa,
quando a capital às margens do Nevá,
esquecida de sua grandeza,
como uma prostituta bêbada
nem sabia mais a quem se entregava,
ouvi uma voz consoladora
que me dizia: “Vem para cá,
abandona essa terra surda e pecadora,
abandona a Rússia para sempre.
Limparei o sangue de tuas mãos,
a negra vergonha arrancarei de teu coração,
com um nome novo cobrirei
a injúria e a dor da derrota”.
Mas eu fiquei calada e indiferente
e tapei os ouvidos com as mãos
para que essas indignas palavras
não viessem profanar minha alma aflita.
(Trad. Lauro Machado Coelho)