Amigos do Fingidor

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Estante do tempo

Apocalipse
Luiz Ruas (1931-2000)


Os meteoros ameaçam nossos jardins.

É hora de decolarmos
Para a infinitude do silêncio dilatado
Com nossas asas de sonho
Antes que a terra exploda
E se escancare como a fauce
De uma desmedida flor carnívora
Faminta de nossos corpos.

Não mais teremos tempo
De colher o fruto do nosso canto

Os meteoros ameaçam nossos campos.

Os mares cobrirão nossas faces;
Os vulcões ressecarão nossos ossos;
As mãos, os ventres, os sexos
Murcharão sob o fogo das estrelas
Que cairão sobre vales e colinas.

Os meteoros ameaçam nossos rios.

É tempo de partirmos para o espanto desmedido.
Do que fomos, fizemos ou cantamos,
Ficará, apenas, o invisível traço
Do voo da ave indivisível
Que se consumiu no espaço.