Pedra negra sobre uma pedra branca
Cesar Vallejo (1892-1938)
Eu morrerei em Paris com aguaceiro,
um dia que meu peito já relembra.
Morrerei em Paris, talvez – não fujo –
numa quinta de outono, igual à de hoje.
Quinta-feira há de ser. Hoje, que proso
estes versos e mal me tenho os húmeros,
é quinta e, como nunca, hoje voltei
com todo o meu caminho a me ver só.
Morreu César Vallejo, o que apanhava
de todos sem que nada lhes fizesse;
lhe davam duro com um pau e duro
com a corda também; são testemunhas
as quintas-feiras, os meus ossos húmeros,
a solidão, a chuva e os caminhos.
(Trad. Thiago de Mello)