Amigos do Fingidor

sábado, 2 de maio de 2009

Poesia em tradução

Eutanásia
Lord Byron (1788-1824)


Quando o tempo trouxer, ou cedo ou tarde,
Esse sono sem sonhos para me embalar,
Sobre meu leito de agonia possa, Olvido!
Tua asa langue levemente tremular.

Nem rois de amigos nem de herdeiros lá estarão,
Para chorar, ou desejar, o que há de vir,
Nem virgem de cabelo desgrenhado
Para sentir dor decorosa, ou bem fingir.

Sem ter por perto carpidores oficiosos,
Deixai que a terra me recubra silencioso:
Que eu não tire à amizade uma só lágrima,
Que eu não estrague um só momento jubiloso.

Contudo o Amor, se o Amor em tal momento
Seus inúteis soluços nobre contivesse,
Poderia mostrar a sua força última
Na que ficasse viva ou no que então morresse.

Seria doce até o fim, ó minha Psique!
Ver as tuas feições ainda serenas;
Para ti sorriria a própria Dor,
Esquecida de suas idas penas.

Mas é vão o desejo – dado que a Beleza
Se retrairá, ao esgotar-se o último alento;
E o pranto da mulher, que rola a belprazer,
Engana em vida, abate no último momento.

Sozinho eu fique pois em minha hora final,
Sem que mostre pesar, sem um gemido;
Para milhares já não franze o cenho a Morte,
E passageira ou ignorada a dor tem sido.

“Ah! morrer todavia e ir-se para sempre!”
Aonde todos foram ou já devem ir!
Ser o nada que eu era, anteriormente
A nascer para a vida e para a dor curtir!

As alegrias conta que tuas horas viram,
Conta os teus dias sem nenhum sofrer:
E sabe, não importa o que hajas sido,
É bem melhor não ser.

(Trad. Péricles Eugênio da Silva Ramos)