Soneto ao Amor
Manuel González Prada (1844-1918)
Serás um bem dos céus ou simples dolo?
Se és um bem, por que as dúvidas e o pranto,
a desconfiança, o remoedor quebranto,
longas noites febris de desconsolo?
E se és um mal neste terrestre solo,
por que os gozos, então, o riso, o canto,
as esperanças, o glorioso encanto,
visões ternas de paz e de consolo?
Se és neve, por que tens tão vivas chamas?
Se és chama, por que gelas como o Norte?
Se és noite, por que a luz do Sol derramas?
Por que esta sombra, se tens luz, querida?
Se és a vida, por que me dás a morte?
Se és a morte, por que me dás a vida?
(Trad. Ivo Barroso)