Amigos do Fingidor

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

exercício nº 14

Zemaria Pinto


A cidade anoitece os seus desígnios
sobre as hordas de selvagens andarilhos,
murmurando gritos sob o burburinho
dos inúteis, dos descrentes e dos bêbados.

A cidade, com seus círculos vorazes
de granizo e fogo e gelo e sangue e serpes:
a cidade-precipício e suas sendas,
suas sombras, seus pudores, seus pecados.

Sob a luz difusa revejo Francesca,
fazendo striptease à música do vento.
Outros tantos corpos nus por nós passeiam
lágrimas, canções, sussurros e gemidos.

Quedo-me em silêncio ao pé da Poesia,
embriagado de desejo e agonia.