Zemaria Pinto
A cidade anoitece os seus desígnios
sobre as hordas de selvagens andarilhos,
murmurando gritos sob o burburinho
dos inúteis, dos descrentes e dos bêbados.
A cidade, com seus círculos vorazes
de granizo e fogo e gelo e sangue e serpes:
a cidade-precipício e suas sendas,
suas sombras, seus pudores, seus pecados.
Sob a luz difusa revejo Francesca,
fazendo striptease à música do vento.
Outros tantos corpos nus por nós passeiam
lágrimas, canções, sussurros e gemidos.
Quedo-me em silêncio ao pé da Poesia,
embriagado de desejo e agonia.