À morte de Nise
Francesc Fontanella (1615?-1680?)
Oh duras flechas do meu fado extraídas,
extraídas por ferir tão dolorosas,
que, levando-me as plumas amorosas,
deixam no peito as plumas mais compridas!
Flamas mais eclipsadas que vencidas,
auroras algum dia luminosas,
sombras de minha vista tenebrosas,
tenebrosas, mortais, porém queridas.
Triste início de penas desumanas,
término tão feliz da alma afligida,
que por alívio sua dor adora;
flechas serão e flamas soberanas
se ao coração me levam triste vida
para aos olhos me dar eterna aurora.
(Trad. Fábio Aristimunho Vargas)