Banho ao luar
Luís Delfino (1834-1910)
Foi uma noite à límpida lagoa,
Que para recebê-la se enfeitara:
Não é que o Olimpo ainda hoje se esboroa,
E dele cai um deus, que lá ficara?
E ao saber que ele iria ao banho, voa,
E forra o lago, e acende-o, como uma ara;
Azuis lá dentro, e os astros arranjara,
E clarões moles, que por selvas coa.
Ela nas margens deixa a roupa: nua,
Como quem entra numa festa lauta,
Lasciva, entre o tinir dos sóis, flutua,
Com um e outro correndo inerme e incauta;
Cai-lhe aos pés Pã, lacera-a a unha da lua,
E há uns ais pelo céu de sons de flauta...