Amigos do Fingidor

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Chamas

Cláudio Fonseca



Ele ergueu a sua taça e fez-se o brinde
com lampejos de punhal e de alegria.
Tu quiseste aquele amor que refletia
o fulgor do castiçal dentro dos olhos.

E quiseste a fina mão, que acendia,
com seus dedos de marfim, outras centelhas.
Não notaste no vazio entre as estrelas
os meandros do amor também abismo.

Quando a aurora refulgiu, fez-se um sinistro
calafrio que sabem os potros e os videntes:
eram crostas de poeira, de repente,
todo o brilho dos talheres e do vinho.

Longos dias se passaram. À mesma hora
era aceso o castiçal. E à mesa posta
vinham ecos da longínqua melodia
que exala dos porões das casas mortas.

Certos sonhos temem ao fogo dessas velas
escorrer, em toscas lágrimas de cera.
E “escondem suas faces nas montanhas”
como Yeats escreveu, junto à lareira.

Há um vulto num solar ou num casebre,
um odor de velhas flores e mortalha,
à espera de alguém - que nunca chega
(para sermos mais diretos com a navalha).

Ou se chega, há um oco de silêncio
escutando os pés subirem ao patamar –
quando chama pelo nome, só atendem
ressonâncias de uma calma de luar.

E assim os jovens rostos se apagam
como círios que adornaram belos ritos.
Ele um dia voltará. Mas em teu quarto
restará um lancinante grito.