Amigos do Fingidor

domingo, 8 de agosto de 2010

Minha pátria é minha língua

Fascinação do mar
Henriqueta Lisboa (1903-1985)



Sonhei com o mar. Ele era terrível
como a cólera de Deus.
E também era belo e era grande
como a misericórdia de Deus.

Olhei o mar. E ele era triste
na solidão e profundeza de suas águas.
E também era louco e poeta
no seu mistério e em suas viagens sem caminho.

Aproximei-me do mar. E ele pérfido
com suas algas e seus milenares abismos.
E também era repousante
com suas ilhas e seus vergéis nascentes.

Fui para o mar. E ele era bárbaro
no acolhimento rumoroso de suas ondas.
E também era a graça, o espírito,
na revoada de suas espumas e gaivotas.

Amei o mar: ele era um deus humano
com seus demônios e seus anjos em liberdade.