Inverno
Álvaro Maia (1893-1969)
I
Vai morrendo a alegria dos estios,
num retintim de pompas e fanfarras:
bandos de pombos em revoos sombrios,
periquitos em loucas algazarras...
A água se espalha em volumosos fios,
que a terra escarvam, ferem como garras...
Fogem do espaço os fracos vozerios
das aves, das abelhas, das cigarras...
Os rios, como veias rebentadas,
dão o sangue lustral – a água que escorre –
às margens, em torrentes e enxurradas...
Há vozes pela selva, em canto eterno
– voz de saudades ao verão que morre,
– voz de exorcismos ao vindouro inverno!