Luar amazônico
Mavignier de Castro (1891-1970)
Verão. Rio em deflúvio. A lua cheia
alonga perspectivas pela mata;
só a fauna da noite ali vagueia
à sombra errante que o luar dilata...
Álgido, estreito igarapé serpeia,
qual sinuosa lâmina de prata...
Que melopéia o urutauí flauteia
na solidão lunar da terra grata!
Amanhece; mas imitando um rito
sobre a mata flutua um véu de neve...
E o Sol – pátena de ouro do Infinito,
espera que no altar da selva nua,
o Sacerdote imaterial eleve
a imagem eucarística da lua!