Amigos do Fingidor

domingo, 28 de março de 2010

Minha pátria é minha língua

Horas mortas
Alberto de Oliveira (1857-1937)




Breve momento, após comprido dia
De incômodos, de penas, de cansaço,
Inda o corpo a sentir quebrado e lasso,
Posso a ti me entregar, doce Poesia!

Desta janela aberta à luz tardia
Do luar em cheio a clarear o espaço,
Vejo-te vir, ouço-te o leve passo
Na transparência azul da noite fria.

Chegas. O ósculo teu me vivifica.
Mas é tão tarde! Rápido flutuas,
Tornando logo à etérea imensidade;

E na mesa a que escrevo apenas fica
Sobre o papel – rastro das asas tuas –
Um verso, um pensamento, uma saudade.