Amigos do Fingidor

segunda-feira, 1 de março de 2010

Estante do tempo

O Uirapuru
J. Ferreira Sobrinho (1888-?)


Para Olegário Mariano


No Acre. Pleno verão. Deslumbrante arrebol
inundava de luz a majestosa mata,
quando, a viajar, ouvi, do maestro de escol,
a voz, que nos fascina, entusiasma e arrebata.

No alto de um buriti, bebendo a luz do sol,
ele o canto habitual, primoroso, desata...
Rodeiam-no, da selva em multicromo rol,
boêmios e menestréis, voejando, espata a espata,

em coro... E mais e mais se inflama a rude avena,
afeita a preludiar, por invernos e estios...
Tão soberba magia a ave ao concerto empresta,

que se tem a impressão de que, assim, tão pequena,
tem, no peito, o rumor de cascatas e rios
e a harmonia pagã de suntuosa floresta.