Amigos do Fingidor

segunda-feira, 8 de março de 2010

Estante do tempo

Três garças... três graças...
Barreto Sobrinho (1891-1934?)





Dentro da floresta amazônica, disforme,
há um grande lago, um lago enorme,
que vive a espelhar na face sua
de dia o sol, de noite a lua...

Em torno ao lago
o vasto capinzal verdeja.
E sob o afago
de mil aves
de cantos estridentes ou suaves,
alveja
uma trilogia de garças brancas
que naquelas paragens francas
ficaram perdidas
qual três visões esquecidas...

Aquele grupo lindo
de três garças,
faz-me pensar que fugiram do Pindo
as três graças...

E ali naquela imensidade
de água e floresta
elas estão simbolizando a saudade
na expressão de sua alvura modesta...

E o lago também ali perdido,
ignorado,
dá-me a idéia de um mundo encantado
transformado no líquido polido...

Esta minha impressão (eu bem recordo)
tive-a ao passar por ali, a bordo.

O rio se estirava interminável!
A floresta aumentava formidável!

Foi quando eu vi as três garças solitárias
naquelas paragens milenárias
de sugestões e de belezas raras,
de lendas, de bruxedos e de Iaras!

Mas as três garças brancas pareciam
três almas penadas
que aos viandantes pediam
que fizessem
com que elas fossem desencantadas...

Mas o navio passou
e a trilogia das garças ali ficou!