Max Carphentier
Vivendo de morrer do amor perdido,
a alma da cunhã, presa na lua,
às vezes desce sobre a noite, e canta
com o nome de urutau, ave das sombras,
em que se encarna pra sofrer nos ramos.
É que Tupã um dia a condenara,
por ter sido infiel, a errar nas trevas,
penando como fazem as flautas tristes.
E vem nesse cantar da lua à terra
toda mágoa dos olhos que interrogam
o céu sobre o pesar do amor sozinho,
como o pesar que sofre essa cunhã
que, se um falaz amor tarde traíra,
do verdadeiro amor cedo partira.