Luiz Bacellar
O meu verso é um fragor: desmoronar-
me sinto quando escrevo. E o ruído é tanto
que vou com passo incerto no meu canto
como se caminhasse à beira-mar
num dia de ressaca sob um luar
como o de agora (a Via Láctea é um manto
salpicado de sal, de prata e pranto)
em que as horas se esquecem de passar.
Meu verso é um natural correr de pena
que rasga, que destrói, mutila e mata
minhalma que é de espuma e de verbena:
é um vestido deixado sobre a cama,
vazio de um corpo amado. E me arrebata
no vácuo intenso do meu próprio drama.