Zemaria Pinto
O som do sol se pondo sobre o rio
compõe a melodia-desatino
de negros ecos, negras ressonâncias,
inventando hemoptises na calçada.
Um barco rasga lentamente a água
e uma gaivota faz evoluções
tardias. Pela beira, dois cães magros,
como dois homens, caçam nos monturos.
Aos poucos, desfaz-se a tarde submissa
à noite, o imenso pássaro sombrio,
sobrepairando azul sobre a cidade,
o hálito morno, as garras afiadas.
Meu peito inda lateja a dor antiga,
tanto cruel quanto serena e amiga.