Ponderação do rosto e olhos de Anarda – Soneto X
Manuel Botelho de Oliveira (1636-1711)
Quando vejo de Anarda o rosto amado,
Vejo ao Céu e ao jardim ser parecido;
Porque no assombro do primor luzido
Tem o Sol em seus olhos duplicado.
Nas faces considero equivocado
De açucenas e rosas o vestido;
Porque se vê nas faces reduzido
Todo o Império de Flora venerado.
Nos olhos e nas faces mais galharda
Ao Céu prefere quando inflama os raios,
E prefere ao jardim, se as flores guarda:
Enfim dando ao jardim e ao Céu desmaios,
O Céu ostenta um Sol, dous sóis Anarda,
Um Maio o jardim logra; ela dous Maios.