Torquato Tapajós (1853-1897)
À minha família
Saudades tenho da terra
Dessa terra em que nasci;
Saudades – tenho da vida
Da vida que lá vivi.
Saudades – tenho dos bosques
Desses bosques e florestas,
Onde o gentio dorme as tardes
As horas mornas das sestas.
Saudades – tenho das tardes
– Saudades que trazem prantos
Em que ao longe o Amazonas
Gemia os seus tristes cantos.
Saudades – tenho das brisas
Que ao luar – pelo arvoredo –
Passam tristes soluçando...
E soluçando em segredo...
Saudades tenho das alvas
Das alvas praias d’areia,
Aonde em noite estrelada
Sorrindo brinca a sereia.
Saudades de meus amigos
Meus amigos verdadeiros;
Saudades de meus prazeres
Meus prazeres derradeiros.
Saudades de minhas manas
De minhas manas queridas;
De meus manos com quem tinha
Minhas dores repartidas.
Saudades tenho de tudo
De tudo – como ninguém –
Mas me ferem mais doridas
– De meu pai e minha mãe...