Hoje
I. Xavier de Carvalho (1872-1944)
Do meu peito o pomar, dantes risonho,
Hoje é sem chuva e até de orvalho enxuto,
O ar vive seco e o céu vive tristonho,
Sem água o espaço e a terra sem dar fruto.
O horror da morte a perpassar escuto
Por sobre tudo num pavor medonho!
Té os galhos, sem cor, estão de luto
Das carcomidas árvores do Sonho!
– Por toda aquela natureza em mágoa
Tudo sinto morrer à míngua d’água
Sem que o inverno do Céu jamais irrompa...
Na árida terra que o calor invade,
A única flor é o cactus da Saudade
Que desabrocha lânguida e sem pompa!