(dedicado à poesia encanecida
das mesas de fins de festas)
das mesas de fins de festas)
não há poeta que resista
passar
24 horas por dia
sem pensar em poesia
durante anos sem fim:
a cabeça televisiona-se
a barriga, outrora esguia, encerveja-se
a poesia é apenas um retrato itabirano
pendurado na parede
e a produção? há produção! haja a promoção
do poeta comportado
gordo e bem/mal passado
que hoje depois de velho
contempla
velhos tomos coloridos
com a mesma sem-gracice
com que espia
lombos juvenis
ai de ti, poeta gordo
ex-poeta
poeta de porta de banco e de farmácia
deixaste
apagar do peito o fogo
com que um demônio incendiaste
há 10 mil anos atrás
pobre de ti, poeta porco
poeta de duplicatas, impostos e carnês
– quem reconheceria nesse cabelo-escovinha
debaixo dessa gravata
o adolescente irado
pregando a paz e a guerrilha?
poeta, meu poetinha de merda,
quebra esse espelho!