(excertos)
Aldisio Filgueiras
Ai de ti, Manaus:
tu viste
na televisão
o crime
suprir
tua lei
– no teu olho –
& preferiste
voltar
as costas
para o rio
& a floresta
& riste
& te chamaram sorriso
& riste
(...)
Decidi
ser didático contigo:
Muitas
cidades já foram devoradas
pelo fogo
& pela água
& pelo vento
& pela terra
& pela... bala...
& pela peste
Muitas.
Tu não:
(...)
Todo descuido
em ti será
fatal, Manaus.
Espremeste
todas as seringueiras
& oprimiste
todos os seringueiros
que o Nordeste
não teve tempo
quente o bastante
para queimar.
(...)
Massacraste
os teus poetas &
pintores
& músicos & malucos
de todos os matizes
– os que mais te amaram –
com discursos
& crimes pós-barba
& piadas obscenas
& quadros & romances
que só tu
superas em ficção
& maldade
(...)
Ouve a pobreza
dos teus
bairros, Manaus.
Eles comem
lixo & tu vestes luxo.
Eles querem viver
& ensinas
lições suicidas
desde a Baixa
Cachoeirinha
– onde quintais
viram danceterias
& os igarapés
estão bêbados de
néon & mercúrio.
Sim: eles querem viver.
Mas o ônibus
fede & os sovacos
& as bocetas
& os homens bebem
movidos a ódio cru
para sonhar
mas o sonho fede
& tu cagas pra isso.
Ai de ti, Manaus
não venhas chorar no meu ombro.