Amigos do Fingidor

sábado, 3 de janeiro de 2009

Poesia em tradução

Saudação segunda
Ezra Pound (1885-1972)

Fostes louvados, meus livros,
porque eu acabara de chegar do interior;
Eu estava atrasado vinte anos
e por isso encontrastes um público preparado.
Não vos renego,
Não renegueis vossa progênie.

Aqui estão eles sem rebuscados artifícios,
Aqui estão eles sem nada de arcaico.
Observai a irritação geral:

"Então é isto", dizem eles, "o contra-senso
que esperamos dos poetas?"

"Onde está o Pitoresco?"
"Onde a vertigem da emoção?"
"Não! O primeiro livro dele era melhor."
"Pobre Coitado! perdeu as ilusões."

Ide, pequenas canções nuas e impudentes,
Ide com um pé ligeiro!
(Ou com dois pés ligeiros, se quiserdes!)
Ide e dançai despudoradamente!
Ide com travessuras impertinentes!

Cumprimentai os graves, os indigestos,
Saudai-os pondo a língua para fora.
Aqui estão vossos guisos, vossos confetti.
Ide! rejuvenescei as coisas!
Rejuvenescei até The Spectator.
Ide com vaias e assobios!

Dançai a dança do phallus
contai anedotas de Cibele!
Falai da conduta indecorosa dos Deuses!

Levantai as saias das pudicas,
falai de seus joelhos e tornozelos.
Mas sobretudo, ide às pessoas práticas –
Dizei-lhes que não trabalhais
e que viverei eternamente.

(Trad. Mário Faustino)