Espelho e face
Guimarães de Paula (1932-1996)
Mata-nos o não vermos
no espelho de hoje
a nossa face de ontem.
Flor de alegria ou de mágoa
que outrora nascia de nós
crestou-se (ignota) no tempo.
A cada dia
quanto mais nos conhecemos
deixamos de ser nós mesmos,
dispersados, divididos,
em não sei quantos milhares
de faces dessemelhantes.