Para Carlos Drummond de Andrade
O homem atrás do bigodevai assim, meio de lado;
será que lhe pesam os óculos
ou o colarinho engomado?
O homem calvo e magro que passeia
com passos apressados na calçada
da praia do Arpoador olha assustado
a moça que ondula a sua frente
a bordo de um minúsculo maiô.
Nas mãos ossudas,
um livro, uma capanga, um guarda-chuva
vão sempre à frente
dos óculos e do bigode.
Para onde vai o homem
na tarde talvez azul?
Vai amar? Vai orar? Vai transgredir?
Pelo jeito ensimesmado,
o homem vai trabalhando,
com palavras vai lutando,
corpo a corpo, todo o tempo,
surdamente penetrando
no seu reino das palavras.
As pessoas por quem passa
não lhe reparam presença;
passam passam – simplesmente
ele também, nem aí...
Será o homem transparente,
um invisível fantasma,
ou um efeito especial
do tosco filme que eu vi?