Amigos do Fingidor

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

O Poeta em preto-e-branco

Zemaria Pinto
Para Carlos Drummond de Andrade
O homem atrás do bigode
vai assim, meio de lado;
será que lhe pesam os óculos
ou o colarinho engomado?

O homem calvo e magro que passeia
com passos apressados na calçada
da praia do Arpoador olha assustado
a moça que ondula a sua frente
a bordo de um minúsculo maiô.

Nas mãos ossudas,
um livro, uma capanga, um guarda-chuva
vão sempre à frente
dos óculos e do bigode.

Para onde vai o homem
na tarde talvez azul?

Vai amar? Vai orar? Vai transgredir?

Pelo jeito ensimesmado,
o homem vai trabalhando,
com palavras vai lutando,
corpo a corpo, todo o tempo,
surdamente penetrando
no seu reino das palavras.

As pessoas por quem passa
não lhe reparam presença;
passam passam – simplesmente
ele também, nem aí...

Será o homem transparente,
um invisível fantasma,
ou um efeito especial
do tosco filme que eu vi?