Raimundo Monteiro (1882-1932)
A Raymundo Moraes
Foges... No encalço teu açula-se a matilha...
Rompe azinhaga e sebe, e pula, milha a milha,
Sobre vergéis de timo e menta, sem cessar,
Farejando o teu cheiro espalhado no ar!
Cheiro de timo e menta – ó gáudio da matilha
Correndo no clarão do teu rastro a ladrar!
Os espelhos dos vaus partindo na carreira,
Gobelinos do bosque e alfombras da clareira
Rasgando, em alarido, atrás de ti se lança
A esvelteza veloz dos galgos da Esperança
Relinchos de corcel em afoita carreira...
Foges... Não tomarás a brida a essa esquivança?
Susta o galope infrene à borda flórea e a pique
Do Amor – que o teu corcel, nitrindo, mortifique,
Um momento sequer, com o freio, a boca a arder
De uma sede sem-fim de correr, de correr...
Dessa fuga talvez nem a lembrança fique...
– Certo, alguém ficará te esperando... e a sofrer.