para dona Cilota, minha mãe
jamais esquecerei
o irmão que matou o irmão
e todos perguntavam
se lavaram o sangue do chão
jamais esquecerei
o pai passando susto no menino
e o medo das águas revoltas
lagrimando nos olhos pequeninos
jamais esquecerei
o pé-de-ferro, o sapato, o martelo
e o silvo do pássaro-preto
alegrando o trabalho do velho
jamais esquecerei
o menino que namorava a menina
e na distância nem sabia
estar gravada nas tímidas retinas
jamais esquecerei
a velha e boa senhora
lavando roupa, fazendo comida
pronta para os filhos a toda hora
jamais esquecerei
o papagaio cortando os ares
e aquela mão desconhecida
partindo sonhos estelares
jamais esquecerei
as pequenas mãos apavoradas
na escuridão daqueles tempos
queimando livros na madrugada
jamais esquecerei