Amigos do Fingidor

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Estante do tempo

Árvore ferida
Álvaro Maia (1893-1969)

Ante a constelação do céu florindo em lume
temos, ó árvore, o mesmo ideal e a mesma sina...
Sangrou-me o peito inerme a sensação divina,
como a acha te sangrou em golpe de negrume.

Dando esmola ao faminto e consolo à ruína
subimos em bondade, ardemos em perfume...
Bendita a dor criadora, o perfurante gume,
que em mim produz o verso e em ti produz resina...

Ninguém virá curar-te! Apenas os ramalhos
ensinarão à flor a música dos galhos
e ensinarão ao galho as lutas das raízes.

Ninguém virá curar-me! Os meus versos apenas
serão o bálsamo esfeito em minhas próprias penas,
sob a ronda de dor dos dramas infelizes.