Amigos do Fingidor

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Estante do tempo

Soneto
Tenreiro Aranha (1769-1811)

A um passarinho, quando o Autor sofria vexações

Passarinho, que logras docemente
Os prazeres da amável inocência,
Livre de que a culpada consciência
Te aflija como aflige ao delinqüente.

Fácil sustento, e sempre mui decente
Vestido te fornece a Providência;
Sem futuros prever, tua existência
É feliz, limitando-se ao presente.

Não assim, ai de mim! porque sofrendo
A fome, a sede, o frio, a enfermidade,
Sinto também do crime o peso horrendo.

Dos homens me rodea a iniqüidade,
A calúnia me oprime; e, ao fim tremendo,
Me assusta uma espantosa eternidade.