Amigos do Fingidor

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

A sombra

Cláudio Fonseca

Oh Morte, vem calada
como costumas vir na flecha
(Anônimo sevilhano)


Dormes nesta hora. A sombra enorme
veio olhar teu corpo em abandono.
E as coisas que amaste, em tua volta
começam a dissipar-se... como um sonho.

As luzes do teu dia tecem o manto.
Eu vejo a tua aurora derradeira.
Hoje, ao acordares deste sono,
o pouco que te resta é a vida inteira.

E a casa já aguarda o gesto triste –
as mãos abrindo a agenda... de utopia.
No campo um musgo aflora, que por certo
apagará teu nome, e o deste dia.

E o dia (amanhã com nomes outros)
matura, nesta hora, seus enredos.
As naus já estão partindo... e sem retorno.
A tua ficará entre os rochedos.