Amigos do Fingidor

sábado, 15 de janeiro de 2011

Poesia em tradução

Da prisão
Adrienne Rich





Sob minhas pálpebras outro olho se abriu
e olha cruamente
a luz

que penetra vindo do mundo da dor
mesmo enquanto durmo

Fixamente ele encara
tudo que eu enfrento

e mais

ele vê os cassetetes e as coronhas
levantando e baixando
ele vê

o detalhe que a TV não mostra

os dedos da polícia feminina
esquadrinhando a boceta da jovem prostituta
ele vê

as baratas caindo dentro da panela
onde preparam carne de porco
no presídio

ele vê
a violência
encravada no silêncio

Este olho
não é para chorar,
sua visão
deve ser nítida

apesar das lágrimas em meu rosto

seu objetivo é a lucidez
nada deve ser esquecido


(Trad. Olga Savary)