Amigos do Fingidor

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Estante do tempo

Sonetos autobiográficos 1
L. Ruas (1931-2000)




Fecundar o próprio sêmen sem ter medo
De em si mesmo dar o ser ao monstro azul.
Escalar o próprio abismo desmedido
E sorrir a cada passo dado em falso.

Desmembrar a tessitura do mistério,
Dissecar a óssea face em frente ao espelho
Estancando a imagem tola no momento
Da mentira venerável — prece infame —...

E depois compor de novo a melodia,
Restaurar as cores todas distendidas,
Refazer o mesmo poema delicado

E ficar paradamente na vidraça
Contemplando a chuva grossa e intermitente
Escorrendo em borbotões pelas sarjetas.