Amigos do Fingidor

sábado, 1 de novembro de 2008

Poesia em tradução

O torso arcaico de Apolo
Rainer Maria Rilke (1875-1926)

Não conhecemos sua cabeça inaudita
onde as pupilas amadureciam. Mas
seu torso brilha ainda como um candelabro
no qual o seu olhar, sobre si mesmo voltado

detém-se e brilha. Do contrário não poderia
seu mamilo cegar-te e nem à leve curva
dos rins poderia chegar um sorriso
até aquele centro, donde o sexo pendia.

De outro modo, erguer-se-ia esta pedra breve e mutilada
sob a queda translúcida dos ombros.
E não tremeria assim, como pele selvagem.

E nem explodiria para além de todas as fronteiras
tal como uma estrela. Pois nela não há lugar
que não te mire: precisas mudar de vida.

(Trad.: Paulo Quintela)